35 ANOS DE OLHO NO FUTURO
Neste último dia 14/08 o Departamento de Engenharia de Materiais (DEMAR) da EEL USP comemorou os 35 anos de vida, juntamente com 25 anos da existência do curso de Pós-graduação em Engenharia de Materiais e 15 anos do curso de graduação de Engenharia de Materiais. As comemorações aconteceram no Auditório do Departamento (Campus II). A cerimônia, que teve início às 9 h, foi conduzida pelo Prof. Dr. Hugo Ricardo Zschommler Sandim. De acordo com o docente, essas comemorações são um meio importante de aprender com as lições do passado para traçar metas para o futuro.
Na abertura, o Diretor da EEL, Prof. Dr. Nei Fernandes de Oliveira Junior, destacou que o DEMAR é uma referência em pesquisa em nióbio e metais refratários e essa ocasião é uma maneira de reverenciar o passado e reconhecê-lo. Ele se lembrou do caminho inverso do Departamento, que com suas peculiaridades históricas, nasceu de um centro de pesquisa para posteriormente se voltar para educação. O Diretor frisou ainda que a Universidade está ampliando consideravelmente a Unidade de Lorena e que novos cursos serão abrigados no Departamento como os cursos de Engenharia Mecânica e de Engenharia Elétrica que estão prestes a serem abertos. O Prof. Nei destacou ainda o apoio dos Professores Daltro Garcia Pinatti e Carlos Alberto Baldan, que como no início da fundação do departamento, hoje foram peças fundamentais para criação dos novos cursos propostos pela USP. “A história do Demar é uma história consagrada e conhecida no país todo devido ao Projeto Nióbio desenvolvido aqui na década de 80. Tenho certeza de que um dia a EEL será tão famosa e importante como foi o projeto Nióbio para o Brasil” finalizou.
Na seqüência, os funcionários que completaram 35 anos de trabalho foram homenageados; os professores Carlos Alberto Baldam, Antônio Fernando Sartori e Rosa Ana Conte e a Secretária do Departamento, Maria Alice Alves da Silva. Os homenageados representaram todas as pessoas que participaram ativamente da criação do DEMAR e que tiveram suas vidas muito ligadas à história do departamento.
A história
Em seguida, a Profa. Rosa Ana Conte contou sua visão da criação do departamento destacando o empenho Dr. José Walter Bautista Vidal, Secretário de Tecnologia Industrial do então Ministério da Indústria e do Comércio (MIC) no ano de 1976, em encontrar alguém capaz de desenvolver uma rota tecnológica que agregasse valor aos minérios brasileiros que eram exportados naquela época em forma bruta com baixo valor agregado. Vidal encontrou o jovem empreendedor o Dr. Daltro Garcia Pinatti, um profissional preparado e disposto a aceitar o desafio. Pinatti, na época trabalhando na UNICAMP, já estava envolvido na criação de rotas tecnológicas de cunho industrial para metais especiais como o nióbio, tântalo e molibdênio. A partir desse encontro, decidiu-se desenvolver uma rota tecnológica para produção de nióbio. Dr. Pinatti e toda sua equipe vieram para Lorena em 1978. Quando voltou ao Brasil instalou a planta de fusão e refino de metais refratários, por ele projetada em cooperação com a empresa alemã Leybold-Heraeus, onde é hoje o atual Departamento de Engenharia de Materiais da EEL. O forno tinha uma capacidade de produção de 40 ton/ano. A partir de então, o nióbio passou a sair do país beneficiado, em formato de lingotes, com um valor agregado muito superior. A unidade de Lorena passou também a abastecer o mercado nacional de nióbio, molibdênio, titânio, tântalo e suas ligas para atividades de pesquisa.
Rosa destacou, ainda, que naquele período onde o máximo da tecnologia em comunicação era o moroso Telex (antigo sistema internacional de telecomunicações), pode-se formar uma rede de ciência e tecnologia em metais especiais e suas aplicações. Por meio dessa rede, que funcionou por cerca de 4 anos, cientistas de todo país e do mundo trocavam informações importantes e imprescindíveis para o sucesso do projeto.
O Prof. Pinatti contou que o Departamento conseguia muitos recursos e financiamentos de empresas e que a aproximação dos pesquisadores com a indústria fez surgir muitos convênios que permitiram toda a construção, aplicação e desenvolvimento do departamento. “O departamento chegou a realizar transações financeiras em torno de U$ 500 mil ao ano e exportar 80 toneladas de nióbio”. Fez contratos de exportação com a Alemanha e Japão e, por dez anos, prestou serviços à Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).
Rumos da Pós-Graduação
O Prof. Dr. Fernando Vernilli Junior, Coordenador do Programa de Pós Graduação em Engenharia de Materiais e Presidente da Comissão de Pós Graduação da Escola de Engenharia de Lorena da USP falou sobre a necessidade de aumentar os números da pós-graduação na EEL.
Vernilli destacou que 50% dos alunos formados pela graduação da EEL vão para indústria e não ficam na pós-graduação. Para ele o desafio a ser enfrentado por todos é atrair esses alunos para a pós-graduação inculcando neles a importância de se manterem ligados à academia. “Devemos ser mais agressivos que o mercado”, frisou. Outra medida sugerida foi a distribuição mais uniforme do número de orientados por docente do PPGEM.
O Professor Pinatti argumentou que, na sua visão, a USP falha num de seus pilares de sustentação (ensino, a pesquisa e a extensão). Segundo ele, há pouca atuação nas atividades de extensão, onde os alunos da pós-graduação poderiam desenvolver pesquisas voltadas para o âmbito industrial. “Antigamente os alunos não arrumavam emprego e continuavam seus estudos financiados por bolsas, hoje o inverso acontece; os alunos já saem empregados e se afastam da academia”. Para ele a solução para aumentar o número de pós-graduandos seria a criação de um mestrado profissional.
Graduação: o que pode mudar
O atual chefe do Departamento de Engenharia de Materiais, o Prof. Dr. Carlos Alberto Moreira dos Santos, lançou alguns temas para discussão entre os docentes para melhorar ainda mais os cursos de graduação, tais como: o papel do docente na motivação dos alunos; como proporcionar um maior envolvimento dos alunos nas atividades e uma maior participação discente em programas de Iniciação Científica, extensão e monitoria tutorial; utilizar projetos como forma de aprendizado em substituição às aulas clássicas; utilizar mais a infraestrutura do departamento em projetos envolvendo alunos; ampliar as ações técnicas da coordenação dos cursos; promover uma interação com a indústria; implantar laboratórios para graduação no departamento; e ampliar os processos de internacionalização. Santos pediu aos docentes que atuem mais na solução dos problemas da graduação e trabalhem em equipe para encontrar um caminho de excelência para os cursos de graduação mantidos pelo departamento.
No período da tarde, houve uma palestra sobre “Integridade em Pesquisa” proferida pelo Dr. André Luiz Pinto do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Em sua explanação, ele abordou os problemas causados pela adoção de práticas questionáveis em ciência, tais como plágio, fraudes, cópias, falsificações e as consequências desses atos ao pesquisador e à sociedade. Segundo Pinto, atualmente as agencias de fomento estão muito interessadas em integridade científica e algumas exigem a criação de Comitês para avaliar a integridade em pesquisa e estabelecer critérios para a adoção de boas práticas.
Na seqüência, ex-alunos do curso de Graduação em Engenharia de Materiais compareceram ao evento no DEMAR para falar sobre suas experiências profissionais, em especial aos alunos de graduação presentes no evento. Os engenheiros Francisco Carvalho (Novelis), Daniel Marton (Peugeot-Citröen) e João Paulo Antunes (Gerdau) falaram de suas experiências pessoais e os desafios que os novos formandos enfrentam no ambiente corporativo.
O DEMAR nos próximos 15 anos
Finalizando o ciclo de debates, o Prof. Hugo Sandim apresentou um painel com questões a serem discutidas e uma projeção do DEMAR para os próximos 15 anos. O objetivo da apresentação foi iniciar um processo de discussão interna para identificar ações de curto e médio prazo para favorecer o crescimento do Departamento no âmbito da Universidade de São Paulo e melhorar ainda mais sua atuação nas atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária.
postado em 27/08/2013 às 17:28 horas
por Assessoria de Imprensa |